Após receber o apoio do Chelsea e retornar ao gramado pouco depois de dar à luz, meio-campista alemã Melanie Leupolz quer servir de exemplo para outras mulheres ao disputar a Copa do Mundo.Concentrada, Melanie Leupolz presta atenção às instruções da técnica da seleção alemã de futebol feminino. Este é um dos últimos treinos em Herzogenaurach, na Baviera, onde a equipe se prepara para a próxima Copa do Mundo, que será realizada na Austrália e na Nova Zelândia a partir de 20 de julho. Assim como suas colegas, Leupolz, que deu à luz há apenas oito meses, dá o máximo de si.

Três meses e meio após o nascimento do filho, a meio-campista alemã, de 29 anos, já voltou a treinar com seu clube, o FC Chelsea, da Inglaterra.

“Tive todo o apoio e compreensão da minha treinadora. Ela também tem filho e, por isso, sabe o que é importante para conciliar futebol profissional e família. Sou muito, muito grata”, relata Leupolz à DW.

A treinadora principal do Chelsea, Emma Hayes, trabalhou até o nono mês de gravidez. E poucas semanas depois, voltou aos treinos acompanhada do carrinho de bebê.

“A aceitação é total. Emma sempre diz que posso levar meu filho para o treino e que ele não é uma distração para a equipe ou para ela”, diz Leupolz.

Chelsea é considerado modelo

O Chelsea é considerado um modelo na Inglaterra quando se trata de jovens mães profissionais. Pouco depois do nascimento de seu filho, o clube renovou o contrato com Leupolz antes do prazo.

“Tive apoio do clube, que me disponibilizou treinos para o assoalho pélvico, o que permitiu que eu logo recuperasse minha antiga força. A cada duas semanas eu falava via Zoom com especialistas nessa área sobre os exercícios que podia fazer. Como resultado, meu tempo de inatividade foi bem curto”, conta a alemã.

“Meu corpo se recuperou muito rápido e bem. Eu mesma fiquei surpresa. Recentemente, voltei ao gramado por 90 minutos contra o Olympique Lyon pela Champions League. Estou muito feliz por estar de volta”, diz a jogadora.

Olympique Lyon cortou salário de jogadora

A situação de Leupolz não é padrão quando se trata da combinação maternidade e esporte profissional. É o que mostra o caso da jogadora islandesa Sara Björk Gunnarsdottir, por exemplo. Ela deixou o alemão Wolfsburg para se juntar ao francês Olympique Lyon em 2020 e, no ano seguinte, engravidou.

Com o consentimento do novo clube, ela viajou para a Islândia nos últimos meses da gestação. No entanto, o Lyon passou a lhe pagar apenas parte do salário e, mais tarde, interrompeu a remuneração por completo.

Somente após a intervenção de um tribunal da Fifa, Gunnarsdottir, que atualmente joga pelo Juventus de Turim, recebeu cerca de 82 mil euros em salários atrasados.

“A Federação Alemã de Futebol é muito aberta”

Apesar do apoio que recebeu do Chelsea, Leupolz afirma que é um desafio desempenhar dois papéis, o de mãe e o de jogadora profissional. “Eu sabia, é claro, que ter um filho durante a carreira implica um certo risco. Mas é maravilhoso que possa funcionar quando recebe o apoio adequado”, diz a alemã.

A Federação Alemã de Futebol (DFB) costuma lidar com a questão de forma positiva. Antes de Leupolz, a goleira Almuth Schult conseguiu retornar à seleção alemã após ter filho. A treinadora da Alemanha, Martina Voss-Tecklenburg, também deu à luz sua filha quando ainda era jogadora e continuou atuando no mais alto nível do futebol profissional.

“A DFB é muito aberta para essa questão. Se eu precisar de alguma coisa, devo informá-los, e eles tentarão implementá-la. É por isso que nós dois, meu filho e eu, somo muito bem-vindos, e é maravilhoso que seja assim”, diz Leupolz.

“Sabemos do que somos capazes”

Enquanto as colegas de equipe de Leupolz aproveitam o tempo livre depois do treino, a jovem mãe começa sua segunda jornada de trabalho.

“Quando estou em campo, sou 100% jogadora de futebol profissional e, quando estou em casa, sou 100% mãe”, diz. “É muito bom que seja possível combinar os dois papéis, que enriquecem um ao outro.”

Leupolz pôde participar dos treinos preparatórios para a Copa do Mundo sem problemas, o que permitiu que seu sonho de disputar um Mundial pela Alemanha se tornasse realidade. Ela foi convocada por Voss-Tecklenburg para ir à Austrália. Mesmo que a técnica ainda não esteja 100% satisfeita com o desempenho da equipe, a seleção alemã é considerada uma das mais fortes da competição.

“Sabemos do que somos capazes, o que queremos, aonde nosso caminho pode nos levar”, diz Voss-Tecklenburg.

Na disputa pelo título de campeãs mundiais, as alemãs contarão com o apoio também do filho de Leupolz, que deverá ir junto para a Austrália.

“Faremos todo o possível para ajudar a Melly [apelido de Melanie Leupolz]”, diz a técnica da seleção, afirmando que 23 babás e a “avó” Martina estarão a postos. “Muitas das jogadoras devem estar felizes por poder cuidar do pequeno.”

Exemplo para outras mulheres

Para Leupolz, na Copa do Mundo está em jogo mais do que o título de campeãs. Ela quer servir de exemplo para outras mulheres que desejam conciliar futebol e maternidade.

“Espero que eu possa ser um modelo a ser seguido, porque para mim tudo funcionou muito bem. Quero que outros clubes percebam isso”, diz a alemã.

Ela espera que outras mulheres possam deixar de lado o medo de serem abandonadas por suas federações e clubes ao se tornarem mães.

“Se uma mulher decidir ter um filho durante sua carreira, espero poder encorajá-la e mostrar que isso é possível”, afirma.