Esquema de tráfico de drogas ganhou notoriedade em março, quando duas brasileiras foram presas injustamente na Alemanha após terem etiquetas das suas malas colocadas em bagagens repletas de cocaína.A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta terça-feira (18/07) mais uma fase da Operação Colateral para prender integrantes da quadrilha que trocava etiquetas de malas no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) com o objetivo de enviar drogas à Europa. O esquema ganhou notoriedade quando duas brasileiras inocentes foram presas na Alemanha, em março deste ano, após terem as malas trocadas pelos criminosos.

Ao todo, 16 pessoas suspeitas de integrar a quadrilha foram presas nesta terça. Nesta segunda fase da operação, que teve entre os seus alvos suspeitos de liderarem o esquema, foram emitidos 45 mandados judiciais – 27 de busca e apreensão, dois de prisão preventiva e 16 de prisão temporária nas cidades de Guarulhos e São Paulo. Dois suspeitos seguem foragidos. Segundo a PF, durante as diligências, um dos alvos quebrou o celular ao notar a chegada dos agentes a sua casa.

No dia 4 de abril, a Polícia Federal já havia deflagrado uma primeira fase da operação, que teve como alvo principalmente executores do esquema. Na ocasião, seis pessoas foram presas.

Entre os executores estavam funcionários do aeroporto e de algumas companhias aéreas, de acordo com a PF. As investigações apontaram que a quadrilha atuava há dois anos no Aeroporto Internacional de Guarulhos.

A polícia ainda apontou que os membros da quadrilha também teriam enviado cocaína em outros dois episódios: para Portugal, em outubro do ano passado, e para a França, em março.

A ação do bando consistia em retirar a etiqueta da bagagem despachada por passageiros que não sabiam de nada e colocá-la em outras que continham drogas. No caso que envolveu as duas brasileiras presas injustamente na Alemanha, imagens mostraram funcionários num setor de carga de Guarulhos, separando as duas malas originais do casal e depois retirando as etiquetas.

Paralelamente, câmeras no saguão do aeroporto registraram a chegada de duas mulheres. Elas carregavam justamente as duas malas recheadas de cocaína. Essa dupla então entregou as malas para a funcionária de uma companhia aérea num setor esvaziado do aeroporto, que não estava operando para check-in de nenhum voo. A funcionária recebeu a mala sem pedir nenhuma documentação ou tíquete de embarque. Mais tarde, as duas malas seguiram para o setor de carga, onde receberam de maneira fraudulenta as etiquetas retiradas das bagagens do casal de brasileiras.

Férias que viraram pesadelo

O esquema de troca de bagagens foi revelado em março, quando a médica veterinária Jeanne Paolini, de 40 anos, e a personal trainer Kátyna Baía, 44, foram presas injustamente na Alemanha. Elas embarcaram no dia 4 de março no aeroporto de Santa Genoveva, em Goiânia, com destino a Berlim, na Alemanha. No caminho, tinham escalas planejadas em Guarulhos (SP) e Frankfurt (Alemanha).

Elas chegaram a Frankfurt no dia 5 de março, prevendo passar 20 dias de férias na Alemanha, na Bélgica e na República Tcheca. Enquanto aguardavam a aeronave para Berlim, Jeanne e Kátyna foram abordadas e detidas pela polícia alemã por suspeita de tráfico de drogas. A acusação: em duas malas despachadas onde constavam etiquetas com os nomes do casal havia 40 quilos de cocaína. A prisão aconteceu na fila de embarque da escala, sem que elas tivessem contato com as malas.

No entanto, as duas malas não pertenciam à dupla, como demonstraram investigações realizadas no Brasil. Imagens das câmeras de segurança do Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, mostraram que a dupla despachou duas malas, uma branca e uma preta.

No entanto, durante uma escala no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, as etiquetas foram trocadas por funcionários terceirizados responsáveis por deslocar as bagagens até os aviões. As malas que chegaram a Frankfurt com os nomes das goianas eram diferentes, com cores marrom claro e escuro.

Após a prisão no aeroporto de Frankfurt, elas foram levadas para um centro de detenção feminino da cidade. As duas relataram posteriormente que as condições na prisão eram precárias e inseguras. Elas contaram que tiveram que conviver com pessoas que haviam cometido todo tipo de crime.

“Assassinas, assassinas em série, incendiárias… tinha todo tipo de pessoas”, contou Kátyna. “Era um ambiente insalubre de várias maneiras: mentalmente, fisicamente; e nós temíamos por nossa segurança, obviamente, porque estávamos convivendo com pessoas perigosas, verdadeiramente perigosas.”

As duas permaneceram detidas por pouco mais de um mês na Alemanha. Um pedido de soltura acabou sendo aceito em abril pela promotoria do país europeu após o envio de imagens e provas pelas autoridades brasileiras que atestaram a troca de bagagens.

Nesta terça-feira, após a PF prender mais 16 suspeitos de integrarem o esquema, Kátyna Baía comemorou a ação da PF.

“Hoje, Jeane e eu vamos esquecer as nossas dores físicas e emocionais para comemorar com vocês uma conquista que é de toda a nação brasileira. Após um trabalho de grande maestria e muita investigação, a Polícia Federal, hoje, prendeu vários integrantes dessa quadrilha que fez Jeanne e eu, e tantos brasileiros vítimas, deixando pessoas vulneráveis aos despacharmos as malas”, disse, em vídeo divulgado por sua advogada, Luna Provázio.

Kátyna ainda fez um apelo para que as companhias aéreas reforcem a segurança no transporte de bagagens.

“Que esse trabalho sirva de exemplo também para a companhia aérea. Que elas também coloquem pessoas que possam acompanhar essas bagagens que são despachadas, pois nós pagamos caro pelo serviço de despachar bagagens e nós desejamos, de fato, que isso nunca mais aconteça com nenhum brasileiro, pois só Jeanne e eu sabemos a dor e o impacto que esses 38 dias de prisão geraram em nossas vidas”, disse.

jps/le (ots)